Bahia: no leme da produção de soja sustentável no Matopiba

Aos 12 anos, Celito Breda já colhia soja com as próprias mãos, na região de Jacutinga, interior do Rio Grande do Sul. Celito passou mais de uma década trabalhando com agricultura na região Sul do Brasil. Até que em 1988 migrou para o oeste da Bahia onde foi um dos pioneiros do que viria a ser um polo de atração de produtores agrícolas. Ele começou com feijão irrigado, mas logo depois iniciou o plantio da soja.

“Trabalhar na fronteira agrícola tem grandes desafios. Há fatores climáticos incertos, solos muito frágeis, pragas novas e desconhecidas”, conta Celito.

A região onde sua fazenda está instalada é conhecida como Matopiba (o encontro dos territórios dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), e compreende 337 municípios que somam cerca de 37 milhões de hectares do bioma Cerrado, o segundo maior da América do Sul. Trata-se de um ecossistema muito seco e com forte incidência solar, terreno fértil para fenômenos meteorológicos extremos, como os “veranicos”, períodos de estiagem com calor e insolação intensos que podem comprometer safras inteiras de soja.

Os “veranicos” assustaram Luiz Pradella logo em sua primeira temporada no oeste baiano. Durante a safra 2001/2002, a falta de chuvas resultou em uma perda de praticamente 100 por cento da produção. Na safra seguinte, foram as pragas que devoraram a lavoura.

A família Pradella também trocou a plantação de soja no Sul do país, em Palotina, no Paraná, para se aventurar no Cerrado. Assim como Celito, foram atraídos por uma região até então pouco explorada e carente de infraestrutura, mas que oferecia grandes porções de terra por preços mais vantajosos.

Os produtores perceberam então que seria necessário trabalhar junto com a natureza.

Historicamente, a conversão de vegetação nativa em área produtiva garantiu lucro a curto prazo. Mas é o incremento na produtividade safra após safra que faz do Matopiba um bom negócio para a soja.

“Adotamos o cultivo sustentável porque precisamos de ambientes estáveis, equilibrados e em harmonia”, afirma Celito. Ele, Luiz Pradella e outros produtores adotam o Sistema Plantio Direto (SPD), cujo objetivo é melhorar a infiltração da água no solo e aumentar a capacidade das plantas em absorver mais nutrientes.

Pradella comemora os resultados. “Com o solo melhor, produzimos mais: saltamos de 3 toneladas de soja por hectare para até 5 toneladas por hectare”, relata. Além do ganho na produção, ele informa que em 13 anos de SPD, houve incremento de carbono ao solo de 0,8 ponto percentual. Isso equivale a um acúmulo médio equivalente de 215 árvores com 10 anos de vida ou da queima de mais de 25 mil litros de óleo diesel.

Sistemas como o SPD são um exemplo de como os produtores na Bahia estão procurando caminhos para aumentar a produção de soja sem a conversão de vegetação nativa.

Celito Breda Stories from the field

Celito Breda, Bahia

Juliana Monti, coordenadora do programa de soja da Solidaridad Brasil, entende que o que está em curso é um processo de mudança de geração dos produtores. “Quando chegaram, há mais de 20 anos, converter vegetação nativa garantia ganhos com a valorização da terra; agora, precisam atender um mercado que exige soja produzida com práticas sustentáveis e áreas livres de desmatamento”.

De acordo com a pesquisa realizada pela a Solidaridad, há fome por expansão agrícola. Cerca de 60 por cento dos donos de terra do oeste baiano planejam expandir a produção de soja. Enquanto, ainda hoje, 54 por cento dos produtores veem essa conversão como a opção mais sustentável financeiramente, uma proporção ainda maior deles vê oportunidades de aumentar a produtividade e expandir para áreas já convertidas como uma alternativa viável. Para isso, investimentos são fundamentais. A pesquisa realizada pelo a Solidaridad, financiada pelo SCF, no oeste da Bahia informa que 67 por cento dos produtores afirmam que incentivos financeiros e subsídios são a chave para a expansão para áreas já convertidas.

“Estamos trabalhando para achar a solução viável pro produtor do campo entregar para o mercado e para o consumidor final uma soja com responsabilidade ambiental”, afirma Juliana Monti, do a Solidaridad. “Qualquer estratégia de pagamento por área preservada de Cerrado precisa ser construída junto com os produtores. E precisamos que seja uma solução benéfica e, principalmente, efetiva”.

Produtores como Celito e Luiz ecoam este sentimento e muitos deles olham para o mercado de carbono como uma clara oportunidade de receber contrapartidas financeiras pela grande quantidade de carbono que sequestram em suas terras.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estima a expansão de 1,1 milhão de hectares de lavoura de soja no Matopiba até 2030. Uma perspectiva que anima os produtores.

“Sempre me pergunto se existe algum agricultor bem-sucedido que não seja otimista. Acho que não”, ri Celito. “Temos bastante a prosperar pois existe mercado consumidor para nossos produtos”.

“Eu sou um otimista nato”, orgulha-se Luiz. “Dentro da porteira estamos fazendo nossa parte: aprendendo e melhorando a produtividade, usando técnicas menos impactantes e mais sustentáveis”. “Nossa região poderá crescer horizontalmente até 70 por cento e verticalmente cerca de 500 por cento nos próximos 20 a 40 anos. Para isso, precisamos de muito apoio dentro e fora da porteira”, apela Celito. “Eu sou um otimista nato”, orgulha-se Luiz. “Dentro da porteira estamos fazendo nossa parte: aprendendo e melhorando a produtividade, usando técnicas menos impactantes e mais sustentáveis”.